O PRIMEIRO PASSO ANTES DO CASAMENTO

por Pastor Leandro Dorneles


Após escrever sobre Divórcio a luz da Bíblia, percebi que outra crise de tamanha proporção instala-se antes do casamento. Dita a máxima que “é melhor prevenir do que remediar”, no casamento não é diferente. Muitos casamentos dão errado porque já começam errados, sem valores maduros, espirituais, sem pesar as responsabilidades e implicações que a vida a dois traz, inclusive àqueles que se unem num cordão de três dobras, onde Deus é o centro desse enlace.

Sabemos que a família é a célula mater da sociedade. O casamento, por sua vez, é a base da família, e Cristo é a base do casamento.

Jesus, por vezes chama a Igreja de esposa, e não raro, de sua noiva. É chamada esposa prevendo a união eterna com Cristo nos ares, através da sua segunda vinda. Porém, é chamada noiva neste momento por ainda as bodas, os preparativos para a celebração final ainda não estarem prontos.

Tão importante é o noivado quanto o casamento, daí Cristo chamar-nos das duas formas com igual teor de responsabilidade e compromisso.

Entendamos, porém, neste artigo, noivado como o tempo de amadurecimento e preparação para uma aliança matrimonial ou, para quem assim o quiser, o tempo do namoro, pois o que desejo retratar aqui não é o cerimonialismo, a liturgia, as tradições e interpretações, mas o tempo que antecede o casamento.

Por que esse tempo, afinal? Por que não podemos simplesmente nos unir efetivamente com aquela pessoa que balançou nosso coração, que sabe usar as palavras certas que afagam o nosso ego, aquela pessoa cuja beleza e nobreza achamos inestimável e única capaz de produzir um sentimento de bem estar e felicidade tão grande, ainda que mal a conheçamos, pois temos a “certeza” de que é essa a escolhida, a alma gêmea, nossa cara-metade, nossa razão de viver? Por que, afinal, precisa demorar tanto quando temos absoluta certeza de que ela é quem tanto esperamos e desejamos?

Gostaria de compartilhar um dos pontos fundamentais que devemos considerar antes do casamento e, num outro momento, sua implicação pós-matrimonial.

Primeiro Passo: Paixão não é Amor

A principal diferença entre a paixão e o amor é que a paixão é passageira, enquanto o amor é eterno (1 Cor 13:8). E antes que alguém me crucifique dizendo que amou e não durou, sugiro que leia o texto na íntegra.

A paixão é o resultado da carência afetiva do indivíduo, cuja necessidade de completude é explícita na Bíblia pelo próprio Deus.

“Disse Deus: não é bom, pois, que o homem viva só" (Gênesis 2:18)

Note que Deus havia criado o primeiro homem e este tinha a companhia do próprio Deus, Mas embora tivesse a companhia do Criador, contudo, o homem sentia-se só, sem alguém semelhante a ele para compartilhar de uma mesma natureza, para se aventurar e descobrir novas experiências.

Esse versículo revela-nos duas coisas importantes que, como cristãos, precisamos considerar:

A primeira é que essa verdade quebra a falácia de que o homem que tem Deus não precisa de mais ninguém (um cônjuge). Deus refutou isso.

A segunda é que a necessidade do casamento não é uma carência proveniente do pecado, pois o homem (Adão, antes da queda) não tinha pecado e mesmo assim sentia-se só.

A paixão é egocêntrica, expressa a necessidade de satisfazer a si mesmo e não ao outro, é baseada na necessidade de ser feliz, enquanto o amor é altruísta, expressa a necessidade de satisfazer ao outro, é baseado no desejo de fazer outra pessoa feliz sem esperar algo em troca, ou seja, não busca os seus interesses (1Cor 13:5). A paixão é demasiadamente excêntrica, o amor não se porta inconvenientemente. A paixão arde em ciúmes, o amor não suspeita mal. A paixão trás insegurança, o amor trás completude de paz. A paixão enquanto admiração pelo visível e aparente pode ser o primeiro passo para despertar o interesse em conhecer de forma mais profunda uma outra pessoa e, a partir daí, pode amadurecer para um sentimento mais maduro, uma amizade pautada em valores em comum, uma visão do invisível do ser, e dessa amizade pode nascer o amor. O perigo está justamente quando se pula o degrau intermediário entre paixão e amor: a amizade.

Aquele que salta da paixão para o amor, quando a paixão acabar (e ela acaba) o amor será destruído e convertido num sentimento de mera responsabilidade, às vezes, prisão, enfado e discórdia, porque a raiz do amor é a amizade, não a paixão.

Quando, porém, o tempo de amadurecimento do conhecer (amizade) antecede o amor, que por sua vez antecede o casamento, este último perdurará, mesmo que a paixão acabe, pois no casamento a paixão (i.e., as necessidades pessoais) já terá sido suprida, (pelo sexo, pela conquista, pelo fim da solidão, o desejo de ser “um com outrem”), tudo isso já terá sido suprido e, a amizade terá gerado um vínculo muito maior chamado “cumplicidade”, único capaz de continuar a nutrir esse amor, depois que a paixão acabar.

O problema, porém, da paixão é que essa foi corrompida pelo pecado e tornou-se extremamente egoísta e possessiva, ignorando valores essenciais à convivência harmônica entre duas pessoas.

O casamento que nasceu da paixão não perdurará, mas o que nasceu de uma amizade pautada em valores em comum, lealdade e cumplicidade, esse será eterno.

Pessoas que rapidamente se apaixonam por alguém que mal conhecem, afirmam terem encontrado a pessoa certa, e se jogam de cabeça num compromisso mais profundo (noivado, casamento, ou sexo antes do casamento), até o dia em que a paixão (o brilho, a fantasia) acaba ou é satisfeita. Aí prontamente encontram outra pessoa e dizem a mesma coisa, tornando-se escravas de um círculo vicioso. Elas nunca se tornam verdadeiramente felizes.

A paixão, isolada e por si só é extremamente possessiva, doentia e, está fadada ao fracasso.

A paixão possessiva se expressa de duas formas mais comuns:

1. A necessidade de que a outra pessoa o faça feliz a qualquer custo (então surge o ciúme possessivo, a violência, e outras doenças patológicas, levando algumas vezes até a tragédias).

2. A necessidade de fazer a outra pessoa feliz a qualquer custo, mesmo em detrimento da própria felicidade (é a necessidade de ser aceito ou aprovado, de se sentir importante, valorizado) trazendo no seu âmago outras manifestações excessivas, compulsórias, às vezes até o suicídio.

Muitas vezes essa paixão é fruto de problemas familiares enraizados na personalidade do indivíduo, como insegurança (filhos nascidos num lar de alcoólatras, por exemplo, são normalmente inseguros), complexo de inferioridade (filhos que são amaldiçoados pelos pais, que não conheceram nenhuma expressão de afetividade), distúrbios de comportamento (crianças que foram abusadas sexualmente, por exemplo), medo de ficar só (pessoas que se sentiram abandonadas em certo momento da vida) e tantos outros que poderiam ser citados.

A paixão dita “passiva” se expressa com menor grau de violência, onde sua principal característica é a projeção de uma idéia errada de perfeição que esta projeta em outra pessoa. Ela cria uma imagem distorcida da pessoa, na verdade, uma imagem que ela gostaria que existisse, oprimindo ou iludindo inconscientemente a pessoa a quem é direcionada essa paixão. Lá no fundo o indivíduo sabe que aquela pessoa não é exatamente o padrão que ele projetou de perfeição, mas o desejo de idealizar um ser que satisfaça a todas as suas necessidades e expectativas é maior que sua razão, levando-o a prosseguir até o fim. E é dessa última que eu gostaria de falar um pouco mais. Esse tipo de paixão é o que mais atinge o público cristão, principalmente em jovens, mas, sem excluir os de mais idade.

O ser humano tem em si a necessidade profunda de se identificar com alguém ou algo superior a si mesmo, algo ou alguém que expresse o sentido da vida, pois sem este, a sua vida não tem razão de ser.

Essa necessidade não é maligna, pois é inerente ao ser humano que fora criado a imagem e semelhança de Deus, tendo em sua natureza primária o Espírito Santo de Deus, a Sua perceptível presença, o que lhe faz compreender quem ele é, de onde veio, para que veio e para onde vai.

O problema é que o pecado separou o homem dessa Presença, deixando um vazio do tamanho do próprio Deus. Agora o homem vive num vazio constante, em busca de encontrar a pessoa ou objeto perfeito de sua adoração, capaz de completá-lo em todos os sentidos. Não é de se estranhar que desde os primórdios da antiguidade todos os povos projetam a imagem de um deus, de alguém ou algo superior a eles, no intuito de se autoconhecer e auto-encontrar. A ciência busca incessantemente desvendar os mistérios da origem do universo para poderem saber mais sobre si mesmos. Filósofos buscaram e ainda buscam essa completude dentro da própria razão, bem como as religiões e doutrinas que buscam através do auto-sacrifício e da penitência o merecimento do paraíso ou da imortalidade. Pensadores buscaram em si mesmos a razão de sua existência (antropocentrismo), outros buscaram nas coisas criadas crendo que tudo é deus e deus é tudo (panteísmo), outros buscaram a explicação de sua agonia na crença deste sofrimento ser o castigo de atos de vidas passadas e um processo evolutivo (espiritismo), outros ainda endeusaram animais, pensamentos, sentimentos, até mesmo bens de consumo como sendo a razão da sua existência, o motivo maior, a resposta para o seu vazio, (materialismo) em outras palavras, o seu deus. Uns culparam o prazer, por existir a dor (budismo), outros se entregaram ao prazer como sendo o apogeu da divindade (paganismo grego). Todos estes buscando preencher o vazio inquietante da alma, encheram a alma com aquilo que não pode satisfazer.

E esse vazio desconhecido de muitos tomou o nome de paixão, idealizando um ser semelhante a ele como objeto de sua adoração. O resultado, porém, será sempre o mesmo: decepção e frustração. Por quê? Porque nenhum ser humano pode ocupar o imenso espaço que corresponde à Presença de Deus, porque ninguém há do tamanho e completude de Deus senão Ele mesmo.

Certa vez, conversando com um irmão, após uma decepção amorosa que tive, questionei-o sobre qual teria sido o meu erro. Então ele passou a me ensinar que essa paixão é o sentimento de entrega que todo ser humano tem, mas que só pode ser saciado por Deus, pois se entregar completamente a algo ou alguém é o sentido da verdadeira adoração, e a Bíblia nos ensina que somente Deus pode ser adorado, uma vez que somente Ele pode corresponder perfeitamente a essa adoração.

Entendi então, que o vazio e a necessidade que eu tinha de me entregar de corpo e alma, deveriam ser satisfeitos somente em Deus, e que a partir de então, Deus poderia satisfazer a necessidade de me completar emocionalmente com alguém semelhante a mim. O vazio - descobri -, não era emocional, era espiritual.

Quando Deus satisfez o vazio espiritual (quando me entreguei a Ele verdadeiramente), logo o vazio emocional também pôde ser preenchido, e eu estava agora preparado para ter uma companheira.

E este é o primeiro passo para um casamento ser completo: o satisfazer-se em Deus. E a prova de que aprendemos a nos preencher em Deus é quando não há mais “ansiedade” em nosso coração, gritando: “preciso de alguém, preciso me casar, preciso ter alguém comigo”.

Quando Deus preencher o lugar no seu coração que Lhe é devido, então não haverá mais o perigo de se entregar a uma paixão insaciável (adorar) aquilo que não é Deus, ou seja, de achar que somente quando tiver isso ou aquilo é que verdadeiramente você será feliz. Se depois de declararmos que Deus ocupou o lugar merecido no nosso coração e de que já nos entregamos a Ele, ainda andarmos ansiosos e obstinados por algo que nos satisfaça, então é porque verdadeiramente ainda não nos entregamos completamente a Deus e o seu coração ainda não deixou que Ele reinasse.

Você precisa entregar o seu coração a Deus completamente.

Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos. (Provérbios 23:26)

Por quê? Porque o seu coração (os sentimentos que buscam saciar-se) é enganoso e corrupto, por causa do pecado.

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jeremias 17:9)

E é exatamente no seu coração que está o caminho da felicidade, por isso você deve entregá-lo a Deus que poderá verdadeiramente guardá-lo no lugar certo, onde a vida tem um sentido.

Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. (Provérbios 4:23)

Essa é a primeira condição e é sine qua non para quem quer ser verdadeiramente feliz no casamento. Quem não se completou em Deus, não se completará no seu casamento.

A juventude é a fase mais difícil e mais perigosa, porque ela decidirá o seu futuro, e se você não lembrar de Deus na sua juventude e quiser se guiar unicamente pelo seu próprio coração saiba que certamente você se lamentará no futuro e colherá os frutos de um caminhar guiado por si mesmo e não por Deus.

Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo. Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade. (Eclesiastes 11:9)

O versículo mais marcante de minha adolescência é Eclesiastes 12:1

Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento.

Não troque o futuro promissor que Deus tem pra você por uma paixão, pois Deus tem o melhor pra sua vida.

Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. (Jeremias 29:11)

Felizmente, mesmo com tantos tropeços e arrependimentos, eu lembrei-me do meu Criador ainda jovem, e hoje posso testemunhar, mesmo sem abrir os lábios, que eu tenho um casamento abençoado e alcancei a benevolência do Senhor.

O que acha uma esposa achou uma coisa boa e alcançou a benevolência do SENHOR. (Provérbios 18:22)

Uma vez Deus me disse, e jamais me esqueci:

“Eu nunca lhe darei menos do que você me pedir”

Quando você encontrar uma pessoa e o seu coração se inclinar para ela, pergunte a você mesmo: “foi isso o que eu pedi a Deus?”

O casamento nasce do amor, o amor nasce da amizade, a amizade gera cumplicidade, fidelidade e lealdade, e o tempo da amizade não é contado em dias, meses ou anos, mas nos frutos que ela produz.

Aprenda a contar o tempo como Deus conta, seja paciente e a sua bênção certamente chegará. Não se apresse! Deus tem o melhor pra você!

Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. (Salmos 40:1)

Deus te abençoe!

Um comentário:

  1. Obrigado por essas palavras meu Deus... Eu vivo carente e admito que busco suprir as minhas necessidades em tudoo, menoas em Deus!
    tscsremc@hotmail.com

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